quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Capítulo 17 - Natal - Parte 1

Raquel levara Beca para lugares incríveis, o Teatro Municipal com uma arquitetura magnífica, de olhar para cima e contemplar a criatividade que o homem pode ter para fazer e restaurar prédios. Mas,  a subida ao Pão de Açúcar certamente fora o melhor momento para Beca, que a fez voltar no tempo e lembrar de sua infância com Ian, quando o garoto empurrava sua cadeira, fazendo seus cabelos dançarem ao impulso do vento. Beca sempre gostara da sensação de liberdade e de alturas, um leve sorriso apareceu quando sentiu a brisa do lugar tocar sua face e trazer uma leveza em seu corpo.
- Tu gostou da vista? - Perguntou Raquel, com o típico sotaque carioca.
- É incrível! - Disse Beca, voltando a realidade. - Muito obrigada por me trazer aqui!
- Foi nada! - Respondeu Raquel descontraída. - E me diz, onde tu vai passar esse fim de ano? - Perguntou a carioca.
- O natal passarei por aqui mesmo. No ano novo, consegui antecipar a passagem, acho que dessa vez conseguirei fazer uma surpresa pro Ian. Ele espera que a gente se encontre apenas no dia primeiro. - Explicou Beca.
- Caracas, ele vai amar, tenho certeza. Pode deixar que fico de olho se ele também mudar a passagem. - Afirmou Raquel. - Bom, estão você é minha convidada para o natal, meus pais sempre oferecem uma grande ceia, você só precisa do traje. Eles são do tipo, vestidos longos e smokings. - Completou.
- Humm, acho que precisarei de um vestido, neste caso. - Respondeu Beca.
- Sem problemas, adoro fazer compras e de quebra, tu vai conhecer o passeio predileto de nós mulheres, haha.
 Alguns poucos dias depois, Beca estava terminando de se arrumar, quando seu celular tocou, era Ian.
- Oi meu amor! - Disse Beca, cheia de mimos com Ian.
- Feliz natal, linda! - Respondeu Ian.
- Feliz natal pra você também! Onde você está? Que barulho todo é esse? - Perguntou Beca.
- Fábio me trouxe para algum bar, em algum lugar aqui da cidade. Espera, vou sair para conversarmos. - Gritava Ian. - Pronto, agora posso te ouvir também.
- Pelo jeito estão se divertindo. - Comentou Beca.
- Bom, talvez Fábio não seja tão ruim quanto eu pensava, eu também conheci mais alguns amigos. - Admitiu Ian.
Nos dias anteriores Fábio ajudara Ian pelo menos para sobreviver, mas sempre que podia também estava presente para levar o novo colega para conhecer Boston. Aos poucos, Ian acabou deixando de lado o ciúme e começara a curtir mais as férias e já tinha se enturmado com os amigos de Fábio.
"Vem Ian! Você ficar de fora!" Gritou uma voz no fundo. O português era bem enrolado, mas dava para entender que uma garota americana o apressava.
- Quem é a garota te chamando? - Perguntou Beca intrigada.
- Eu a conheci hoje, veio com a turma. - Explicou Ian, sem reparar no tom de Beca.
Que Ian sempre demonstrava mais suas emoções que Beca era fato incontestável, mas o garoto também conseguia ser desligado para coisas simples e mesmo sem perceber, ele estava dando menos atenção do que deveria à Beca e com um agravante: uma garota desconhecida estava gritando seu nome ao fundo. Beca dera uma esmorecida do outro lado da linha, não por achar que Ian pudesse traí-la, isso seria a primeira preocupação de qualquer outra garota, mas para Beca, era a suposição de que o namorado estava desfrutando de uma vida que nunca poderia desfrutar com ela, pelo menos assim Beca sempre acreditara ser. Talvez isso realmente fosse uma aventura que Ian estava descobrindo gostar, mas em nenhum momento que esteve com Beca, esse tipo de curtição fora reprimido, os dias com Beca sempre foram muito bem vividos e amados , mas talvez agora ele estivesse percebendo o quanto gostava dessa liberdade e agitação que a vida jovial poderia lhe proporcionar.
- Bom, eu preciso ir, daqui a pouco o motorista da Raquel passará e ainda não terminei de me arrumar. A gente se fala depois. - Disse Beca, sentindo-se um pouco desconfortável.
- Tá bom! Divirta-se! - Disse Ian sem questionar, o que aumentou a frustração de Beca.
Foi o tempo de Beca desligar o celular e o telefone do seu quarto tocou, era da recepção, informando que o motorista que à levaria até a casa dos pais da Raquel havia chegado. Beca vinha de uma família de dinheiro, mas eles não faziam o tipo que ostentava a riqueza, quando morava em São Paulo, vivia numa casa confortável e uma boa escola, mas nada que vissem a necessidade de demonstrar publicamente para a vida alheia, por isso havia insistido para Raquel de que iria de táxi, mas a carioca insistiu que disponibilizaria o motorista da família. Na verdade, olhando para Raquel, claro que se via muita beleza na carioca, mas ela tinha o típico perfil de filha rebelde da família milionária, ainda assim, tinha seus limites e por isso insistira para que Beca utilizasse o motorista da família, o que fazia Beca sentir-se um pouco desconfortável do que esperar desse natal atípico.
Beca se olhou mais uma vez no espelho não para ver como estava, na verdade queria ganhar tempo, ou encontrar o ânimo que havia perdido para a noite de natal, algo lhe dizia que a noite seria no mínimo sem graça.
Quando o carro em que estava se aproximou da casa de Raquel, Beca deu uma respirada fundo e entendeu porque estava tão apreensiva. O carro fez a curva para entrar num condomínio fechado, que desde a portaria esnobava uma elegância maior do que a frente da sua própria casa, a portaria devia ter o tamanho de uma casa de dois quartos espaçosa, pintada num tom nude, com pilares enormes separando o lado de entrada e saída de veículos, do lado de fora, dois seguranças com escutas ficavam parados, apenas observando a movimentação da rua. Pessoas ricas tendem a intimidar e Beca, apesar de sempre ter lidado bem com pessoas e seus atos egoístas, não gostava de ter que enfrentar ricos esnobes e cheios de si mesmos. "Meu Deus Ian, onde eu fui me enfiar?" Pensou Beca olhando pela janela e tentando enxergar o limite dos pilares.
Na entrada da casa, havia alguns convidados chegando também em seus carros luxuosos, todos com motoristas. As mulheres desfilavam joias e diamantes e vestidos longos cintilantes, enquanto os homens, a fineza dos smokings e gravatas borboleta. Nem as crianças escapavam, vestidos e mini smokings perfeitamente alinhados no corpo e o andar acusava que provavelmente passavam por aulas de etiqueta para se comportarem nesse tipo de ocasião. "Não dou dez minutos até ver essas crianças descabeladas, correndo por essa mansão." Comentou Beca, consigo mesma.
- Beca, que bom que finalmente chegou! - Disse Raquel, vindo recebê-la. 
Beca apenas forçou um sorriso de simpatia, sabia que Raquel era inocente de seus pressentimentos para aquele natal. Ela ajustou o vestido para sair do carro e sentar-se na cadeira, não queria que ninguém a carregasse, isso era algo muito íntimo. Raquel apenas ficara segurando a cadeira para que ela não se afastasse de perto do veículo. Beca percebera alguns olhares em sua direção não muito confortáveis, mas decidiu ignorar, esta noite ela teria que exercer todo seu lado artístico para conseguir passar incólume.
- Desencana desse povo, Beca! É o que eu faço. - Disse Raquel, percebendo o desconforto da colega com os olhares tortos em sua direção.
A fachada da casa estava toda iluminada por pequenos piscas piscas branco, o que deixava com aspecto de ser uma casa feita de pérolas. No interior, o piso era todo bem claro, na verdade todo o ambiente era em tons bege e branco com objetos em preto e vermelho, tornando o contraste vivo e notório por todo o ambiente. Depois de passar pelo corredor, via-se uma escada à direta, que dava para o segundo andar, onde certamente ficavam os quartos. Foi preciso correr todo o corredor até chegar nos fundos da casa, com um gramado num verde perfeito e uma tenda exibindo a mesa com o cardápio de entrada daquele jantar.
...
Enquanto isso em Boston, Ian desfrutava da melhor noite da sua vida, o rapaz nunca havia pernoitado antes, nem mesmo quando adolescente, sempre se atentou para o toque de recolher que os pais estipulavam, não que eles fossem rigorosos, apenas colocavam limites. Ian conheceria em breve o que era sofrer por enxaqueca. O que começara com um copo de shopp, fora aumentando e as bebidas mudando. Como boa parte dos bêbados de primeira viagem, logo Ian estava totalmente fora de sim, passando mal e precisando ser carregado de volta para a casa, o problema, é que não foi para a sua, ou bem dizendo, para a casa da Beca que ele fora levado.

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