quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Capítulo 18 - Natal - Parte 2

Os parentes da Raquel continuavam a encarar Beca e sua cadeira de rodas, eles nunca deviam ter visto uma deficiente antes.
...
No começo da noite, Beca tentara ignorar os olhares sobre ela, era possível contar nos dedos de apenas uma das mãos àqueles que foram gentis e ao menos desejaram-lhe boas festas, com certeza essa era a primeira vez que um grupo da sociedade tratavam um deficiente com tamanha indiferença e talvez se não fosse o pré desconforto que vinha sentindo e de saber que Ian estava se divertindo de uma maneira que a surpreendeu, Beca teria certeza de que aquelas pessoas tinham o poder de manipular sensações apenas com olhares. Não que Beca preferia o Ian recatado, era o dia que tinha acordado com o pé esquerdo e tudo que ela mais queria era voltar para o hotel.
- Beca, está tudo bem? - Perguntou Raquel, sentando-se ao lado da colega.
- Só estou um pouco indisposta. Se importa se eu voltar para o hotel? - Perguntou Beca, esfregando a testa.
- Claro que não. Precisa de alguma coisa? Quer que eu vá contigo? - Perguntou a carioca preocupada.
- Não, tudo bem, só preciso me deitar, são as dores fantasmas. - Mentiu Beca, apontando para a perna.
- Oh, ok. Eu te ligo amanhã para saber se está melhor. - Respondeu Raquel.
- Tudo bem. Obrigada pelo convite, feliz natal! - Estimou Beca à Raquel.
- Você também. - Retrucou Raquel, com ar penoso.
Quando Beca subiu para o seu quarto no hotel, tirou o celular da bolsa para verificar se tinha alguma ligação perdida de Ian, em qualquer outra situação, haveria talvez até três chamadas não atendidas e algumas breves mensagens carinhosas e preocupadas com a garota, mas não hoje, não desmaiado como ele estava, sem ao menos saber onde dormira. Beca ligou para o celular do namorado uma única vez, até que a secretária eletrônica atendeu e ela optou por desligar, por fim, deixara apenas uma mensagem de "boa noite" e "espero que tenha se divertido" e ela estava sendo sincera. O peso daqueles olhares indiferentes sobre ela haviam sido maiores do que ela gostaria de admitir e os reflexos sentidos até mesmo na hora de tirar o traje de gala em troca da confortável camisola de seda amarela. Beca estava desnorteada e acabara se desequilibrando e caindo da cadeira ao tentar alcançar o creme que o serviço de quarto sem querer colocara numa altura complicada para a garota. Parecia que Beca precisava voltar a acreditar que aqueles olhares de desprezo não eram para ela e isso só seria possível, alcançando o creme. Não poder alcançá-lo doeu mais do que a própria queda, Beca chorou e pela primeira vez, odiou ser uma paraplégica.
...
Ian fora acordado pelo latejar incessante da sua cabeça e totalmente sem equilíbrio nos pés, pelo que saiu cambaleando e direto para o banheiro, pois o estômago ainda precisava expulsar o mal estar gerado na noite anterior. Ian tentava reconhecer o local, mas isso não aconteceria, só depois de sair do banheiro percebera que estava apenas com uma samba canção, o que lhe fez despertar totalmente e procurar pelo resto de sua roupa.
Ele foi encontrar sua camisa xadrez na porta da sala e a calça jogada num sofá de dois lugares, perto da janela.  No sofá do lado, de três lugares, havia uma moça que Ian não soube dizer se estava morta ou dormindo, até que finalmente percebeu que respirava, mas ele optou por não olhar muito, já que a garota estava vestida apenas com roupas íntimas. Os cabelos louros e lisos estavam jogados sobre seu rosto, mas Ian reconheceu ser a mesma garota que gritara seu nome enquanto falava mais cedo com Beca ao telefone; "Beca!" Lembrou Ian. Depois de correr pela casa a procura de sua calça, Ian finalmente a encontrara embaixo da garota do sofá. "Aí meu Deus, que foi que você fez, Ian?" Perguntou-se o garoto petrificado diante da cena da jovem semi nua deitada em cima da sua calça.
- Aí está você! - Gritou Fábio, saindo de algum lugar que Ian não soube identificar.
- Ai, fala mais baixo. - Pediu Ian, levando as mãos à cabeça que continuava latejando.
- Ressaca, hã? - Disse Fábio. - Primeira vez? - Perguntou Fábio, indo até a cozinha.
- Sim. - Respondeu Ian deslocado.
- Toma, bebe isso que vai te fazer bem. 
Fábio colocara uma aspirina num copo com água que rapidamente começou a ferver no copo, Ian virou em três grandes goladas.
- O que aconteceu? - Perguntou Ian nitidamente sem memória.
- Então não se lembra? - Perguntou Fábio com um largo sorriso.
- Não... - Respondeu Ian receoso.
- Aquela garota estava totalmente na sua, garoto! - Informou Fábio.
- A gente...? - Ian não tinha coragem de terminar a pergunta, mas receava pela em ouvir a pior resposta.
- Olha, bem que Ketty tentou. - Disse Fábio. - Mas só o que conseguiu foi um beijo muito do forçado e aí você fugiu e ela caiu no sofá.
- Como não me lembro de nada disso? - Perguntou Ian abismado.
- Nunca, aceite bebida de estranhos. Sua mãe nunca te ensinou isso? - Respondeu Fábio, se divertindo com o estado do colega.
- Eu beijei outra garota...que droga! - Pensou Ian, desapontado consigo mesmo.
- Cara, você foi beijado, muito a força, isso depois de ter sido drogado. Relaxa, Beca vai entender.
Depois de muito custo, Ian finalmente conseguiu retirar a calça debaixo de Ketty, se esforçando ao máximo para não olhá-la naqueles trajes, mas era impossível, já que sua calça estivera totalmente por baixo de Ketty.
Uma chamada perdida
- Alô Beca? - Disse Ian quando a garota o atendeu. - Oi meu amor, me desculpa não ter te atendido ontem.
- Você está bem, Ian, parece agitado. - Perguntou Beca.
Já era perto do horário do almoço, Beca estava começando a organizar as malas para viajar no começo da noite.
- Eu, agitado? Ah, não! É que acabei dormindo demais e não queria ter perdido sua ligação. - Omitiu Ian. - Como você está? Como foi ontem?
- Foi tudo bem. - Mentiu Beca, preferi voltar cedo. - O que vai fazer amanhã durante a tarde? - Perguntou Beca desconversando.
- Hum, Fábio me chamou pra jogar basquete com uns amigos, eu disse que não sabia, mas ele insistiu que eu fosse. - Respondeu Ian.
- Que tal ir me buscar no aeroporto? - propôs Beca.

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