sábado, 14 de novembro de 2015

Capítulo 22 - E Viveram...

Diga à Beca, que a vida vale a pena!
...
Não garanto que depois do "sim" de Beca outras bolhas não se formaram nos achismos da garota, mas com o passar do tempo Ian aprendera a quebrar cada uma delas e mostrar para Beca que o amor dele não mudaria.
Ian não apenas amava Beca, mas tinha um certo prazer em surpreendê-la sempre que podia. A carreira como advogado lhe rendera reconhecimento e com o passar do tempo, Ian começou a assumir casos mais complicados, até que decidiu se candidatar como promotor público. Na maioria das vezes os casos eram resolvidos de forma rápida, em outras, Ian até chegava em casa tenso e Beca ficava incumbida de ajudar o marido a esquecer as histórias que tinha que lidar durante as investigações. Normalmente eles iam ao parque, ou simplesmente alugavam um filme e ficavam juntinhos conversando, namorando e se gostando. Uma noite, sentados no chão e encostados no sofá, Beca comentara que gostaria de morar numa casa com um fundo para uma pequena floresta, um lugar que macacos pregos e diferentes pássaros viessem passear e roubar umas frutas que Beca propositalmente deixaria para eles. Ian guardou o desejo da esposa na mente e depois de algum tempo lhe presenteara com a casa, do jeitinho que Beca imaginara. Tinha até mesmo um lugar para Beca montar seu escritório em que atendia suas clientes, ela clinicava por conta, depois de passar pelo processo obrigatório de residência, mas gostava mesmo de se dedicar a arte, outra paixão que descobriu com o tempo e ela tinha muito talento na verdade.
Beca estava na sala da casa, que era rodeada de verde, portas de vidro com vista para a natureza, ela havia parado um momento a arrumação da casa nova para rever as fotos do seu casamento, que acontecera num domingo pela manhã em São Paulo, perto da família, para onde os dois voltaram a morar depois que se formaram. O domingo proporcionou ao casal um cenário perfeito de claridade, os padrinhos de smokings brancos, tinha até mesmo gaivotas no céu e alguns cisnes no lago do sítio em que celebraram a união.
O projeto em que Beca contribuíra para o estudo de paraplegia não havia tido sucesso e ela permanecia na cadeira de rodas, foi uma das bolhas que ela formara na época, querendo ou não, a ideia remota de poder andar era algo latente desde que surgiu a possibilidade e ter que lidar com frustração era um novo desafio, mas nada que o tempo e Ian não pudesse contribuir para que a rotina voltasse ao normal.
Enquanto olhava o álbum de casamento, Beca encontrou uma foto antiga dos seus pais, que como ela e Ian, também cresceram juntos e assim permanecem até hoje.
Débora, mãe do Ian estava ajudando Beca a desfazer as coisas da mudança e parou para ver as fotos com a nora.
- Seus pais formam um lindo casal. - Comentou Débora.
- Formam mesmo. - Concordou Beca com um sorriso. - Nossa, nesse dia, Ian estava muito nervoso com cara que não deixou uma senhora passar na frente para ser atendida. - Lembrou Beca, olhando uma foto dela com Ian em que o rapaz estava com uma cara de rabugento. 
- Ian nunca aguentou ver alguém agindo com indiferença, não importava quem fosse. - Observou Débora, sorrindo ao ver a foto do filho.
- Ele sempre foi meu herói. - Respondeu Beca, permitindo algumas lágrimas.
Ian fora morto depois de tentar impedir alguns jovens de continuar a agressão à um morador de rua, os jovens bateram até que Ian desmaiou. Quando o resgate, Ian só conseguiu com muito esforço deixar um pequeno recado: "diga à Beca, que a vida vale a pena!"
...
O casamento de Beca e Ian fora o mais lindo de todos os tempos, não teve um convidado que deixou de contemplar o amor que havia entre os dois apenas numa simples troca de olhares ou num tocar de mãos.
Em seu voto, Ian lembrou a Beca com a vida poderia ser bela quando permitimos ir além dos nossos medos e que ele cuidaria dela com a honestidade que o amor pedia.
Beca quase não conseguiu dizer seus votos depois de ouvir o marido, mas tomou fôlego e começou a discursar, com o mesmo olhar que lhe dera na noite da formatura:
Ian Freitas, quando eu acho que a vida já me presenteou o suficiente, me lembro que temos uma vida inteira juntos e isso me traz um sorriso que acabo não conseguindo disfarçar, mas quer saber? Deixo mesmo a alegria aparecer sem me importar com o que pensarão, porque a verdade é que esse amor que construímos precisa ser passado adiante. Eu quero que outros tenham o prazer de desfrutar do bem que você faz e do quanto lhe sou grata por tudo. E se tivermos apenas mais esse dia, que grande dia está sendo e é exatamente assim que me sentirei sempre. Eu te amo!
 No próximo domingo, Beca e Ian completaríam dez anos de casados.

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