quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Capítulo 8 - Corrida Matinal

Beca está em sua cama e parece não acreditar no que aconteceu na noite anterior.
...
O relógio acusa 06h am e Ian já está de pé, amarrando o cadarço do seu tênis de corrida, com sua regata estampada de algum tipo de frase motivacional "no pain, no gain" e um shorts com o símbolo da nike na perna direita. Após ajeitar o fone de ouvidos e soltar o play, fechou a porta da frente de casa e se deixou levar pelo som. Um misto de percussão, talvez carron para ser mais exato e uns dois violões brincando de solos e batidas na introdução da música, até que a voz de Adriana Calcanhoto completara a melodia, fazendo Ian viajar até a noite anterior, fechar os olhos por alguns breves segundos, respirar fundo, como se pudesse sentir o cheiro de Beca e começar a correr, num ritmo cada vez mais forte, quase alcançando o aroma da amada.
Enquanto isso, na casa do meio, Beca decide sair da cama e juntar-se aos pais para o café da manhã. Sua mãe está terminando de aprontar a mesa, enquanto Pedro está sentado na sala, lendo as primeiras notícias do dia no jornal que o garoto joga toda manhã na porta de casa.
- Que horas a senhorita chegou? - Perguntou Pedro ao ver a filha cruzar a sala, rumo a cozinha.
- Bom dia pra você também, papai! - Brincou Beca, ignorando a pergunta do pai.
Apesar de Pedro estar realmente interessado numa resposta à sua pergunta, ele sabe bem que Beca deve estar querendo ter uma "conversa de mulheres".
- Hunf...vou correr um pouco, já já eu volto. - Desencana Pedro, fechando o jornal e saindo para o exercício do dia.
- Filha, conta tudo! - Disse Vivian, ajeitando a cadeira e servindo café para Beca e depois para ela mesma.
- Ah mãe, foi tudo perfeito! - Começou Beca, com os olhos brilhando de alegria.
...
Ian havia alcançado um bom ritmo, quando estava virando a esquina e quase deu um encontrão em Pedro, que vinha correndo na direção oposta.
- Sr. Pedro, me desculpe, eu estava distraído. - Disse Ian, surpreso.
- Não tem problema, somos dois distraídos e eu diria que pelo mesmo motivo. - Brincou Pedro. Ian apenas sorriu. - Quer tomar alguma coisa? - Convidou Pedro, apontando para uma padaria na esquina.
- Claro. - Aceitou Ian, enquanto tentava recuperar a respiração.
...
- Ele me levou até a pista de dança, eu achei que ele estava ficando louco, aliás, todos devem ter pensado a mesma coisa, porque todo mundo parou pra olhar. - Continuava Beca. - Aí ele pediu pra eu segurar firme e então me levantou da cadeira, mãe. Eu achei que eu fosse cair, mas, ele me segurou e a gente dançou a música inteira. - Concluiu Beca.
...
- Vocês devem ter se divertido bastante ontem a noite. - Comentou Pedro, servindo um copo de suco para Ian.
- Nos divertimos sim senhor, Beca é incrível. - Concordou Ian com um sorriso.
- Ela é sim. - Retrucou Pedro. - Vivian e eu nos conhecemos desde sempre, assim como você e Beca. - Continuou Pedro, Ian apoiou os braços na mesa para prestar atenção na história do sogro. - Vivi sempre foi a garota mais cobiçada da nossa turma, mas nunca deu importância para isso. Quase que nem a convidei para o baile, quando chegou a época, eu pensava que algum garoto do futebol já teria feito o convite e ela aceitado. Mas eu resolvi arriscar e para minha sorte, ela aceitou ser meu par. - Sorriu Pedro ao se recordar do episódio. - Nossa, ela estava ainda mais linda, nem dava para acreditar que ela iria comigo. Passei boa parte da noite ensaiando para convidá-la para dançar, precisei até ir dar uma volta, de tão nervoso que estava. Uma das amigas dela me encontrou perto das bebidas e me passou um breve sermão: "você sabe de quem Vivi recusou o convite, só para vir com você ao baile? E agora você a deixa sozinha na mesa?" - Pedro tentava imitar uma voz aguda para interpretar a amiga de Vivian. - Aquela foi a coragem que me faltava para chamá-la para dança e desde aquele momento, não nos separamos mais. - Concluiu Pedro, parecendo sair de um mundo de recordações. - Posso imaginar que o baile de vocês também não tenha ficado apenas na dança. - Comentou Pedro, olhando Ian diretamente nos olhos.
- Sr. Pedro, quero que saiba que eu respeito muito sua filha... - Disse Ian, recompondo a postura e engolindo em seco.
- Relaxa garoto, eu sei que você é um rapaz decente. - Disse Pedro, com um sorriso de pai compreensível.
- Obrigado, sua filha é muito especial para mim. - Disse Ian.
- Ian, você precisa entender que... - Pedro pigarreou antes de encontrar as palavras corretas para o rapaz. - Beca é realmente uma garota incrível, mas, você precisa encarar a realidade na situação dela. Eu não quero ver minha filha sofrendo, também não quero que você acabe se frustrando futuramente, mas... talvez esse momentâneo encanto que vocês estejam vivendo, ofusque a realidade, você me entende? - Perguntou Pedro.
- Sr. Pedro, quando o senhor soube que amava a sra. Vivian? - Perguntou Ian, em meio a um sorriso.
- Ah, foi muito antes do bai... - Pedro não terminou de falar, ele entendera o propósito da pergunta do rapaz.
Ian sorriu, fazendo que sim com a cabeça, como quem ouve exatamente o que desejava.
- Eu nem sei dizer ao senhor desde quando, mas a verdade é que eu amo a sua filha e eu estou completamente e irreversivelmente apaixonado por ela. - Disse Ian, com um largo sorriso no rosto. - E eu não estou nem aí se ela está numa cadeira de rodas! A verdade, sr. Pedro, é que quando eu estou com Beca, eu não vejo rodas, não vejo trajes, não vejo limitações, eu só vejo o quanto ela me faz o cara mais feliz desse mundo e de como eu quero retribuir isso à ela. Cada dia, eu só quero encontrá-la para fazê-la sorrir mais uma vez. - Concluiu Ian.
- Bom, então é mesmo amor. - Completou Pedro, dando uma batidinha nos braços de Ian.
...
- Bom filha, então agora vocês estão namorando? - Perguntou Vivian, cheia de orgulho da filha.
- Ah, não sei mãe...acho que sim! - Disse Beca, encabulada.
...
Alguns dias se passaram e o amor de Beca e Ian só aumentava, Ian se preparava para o vestibular, ele queria ser advogado e quem sabe chegar a ser um grande juíz algum dia. As melhores universidades para o curso ficavam longe da cidade e o casal tentava ao máximo aproveitar o tempo que tinham juntos, até o dia das provas e então seu resultado.
A última coisa que Beca queria, era atrapalhar os estudos de Ian, apesar do tempo corrido, os dois sempre davam um jeito de se ver.
No dia da prova, Ian estava um pouco apreensível, dividido entre o sonho de cursar direito e de permanecer ao lado de Beca, mas sabia que a namorada jamais permitiria que ele abrisse mão da oportunidade de se formar em uma das melhores universidades do país e no fundo ele também sabia que isso seria ruim para o relacionamentos deles futuramente.
Duas semanas depois do vestibular, o site anunciara a lista de classificados, quando a campainha tocou. Era Beca:
- Parabéns meu amor! - Disse a garota, estendendo os braços para receber um abraço do namorado.

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