Quanto mais o tempo
passava, mais amigos Ian e Beca se tornavam.
Ian passava todas as
manhãs para pegar Beca e irem juntos para a escola.
Ele definitivamente
se divertia mais do que a amiga, não que Beca também não adorasse, mas sabe
como são os meninos, dê-lhes algo com rodinha e eles se tornarão verdadeiros
pilotos de formula 1.
Apesar dos pais de
Ian os acompanhar, na maioria das vezes Ian e Beca se perdiam entre uma esquina
e outra, acelerando. Ian tirava sorrisos largos de Beca. Ela fechava os olhos e
sentia o vento batendo em seu rosto, jogando os cabelos quase albinos para
trás, abrindo os braços e curtindo a aventura.
- Mais rápido Ian,
mais rápido! – Gritou Beca para o amigo.
Até para o pequeno
Ian, a velocidade tinha um limite, apesar da diversão com a amiga, ele não
abusava, mas seus efeitos sonoros sempre deixavam a corrida mais emocionante.
- “Vruuum”, estamos
chegando no espaço “cereal”, capitã!" – A palavra correta que Ian
quis dizer era sideral, mas a confusão de palavras era algo comum e sempre
arrancava sorrisos dos adultos.
O espaço
"cereal" era a escola em que ficavam a maior parte do dia, onde tudo
começou a mudar para Ian e Beca.
Alguns dias após Ian
e Beca começarem na escola, a amizade entre o casal foi além dos muros
escolares, não demorou muito até que Ian passe horas na casa de Beca e Beca na
casa do amigo.
Como os pais de Ian
eram novos na cidade e a amizade dos filhos cada dia mais intensa, foi natural
que as duas famílias acabassem se aproximando. Natal, ano novo, ação de graças,
entre outros fins de semanas normais corriqueiros. Débora e Luiz também
aprenderam a cuidar de Beca, quando a garotinha ia dormir na casa do amigo.
- Você sente se eu
fizer assim? – Perguntou Ian, cutucando a perna da amiga.
- Não. – Respondeu Beca
sorridente.
- E assim? –
Perguntou novamente o amigo, dando uma cutucada dupla em sua perna.
- Também não. –
Tornou a responder a amiga, Ian gargalhava achando divertido a amiga não sentir
nada nas pernas.
Debora sorria da
cozinha, enquanto observava o filho descobrindo os efeitos da condição de Beca.
Certa noite, antes
de dormir, Ian fez um importante pronunciamento à sua mãe:
- Quando eu crescer,
quero “caçar” com a Beca! – Disse o menino, pulando na cama, com seu pijama de
homem aranha.
- Você quis dizer,
casar com a Beca. –Corrigiu Débora.
- É, isso!
– Mas, vocês ainda
são muito novos por enquanto, filho. - Disse Débora, cobrindo o filho.
- Mas eu não disse
que era agora, né mãe! – Disse o garoto, gesticulando com os braços. – Agora a
gente só brinca.
- A Beca é linda,
não é filho?
- Liiiiinda! –
Repetiu Ian com um sorrisão.
A fase da adolescência sempre
fora a mais trabalhosa para os pais, filhos rebeldes e cheios de espinhas, com
a puberdade gritando alto. As meninas descobrindo a TPM, One Direction e o mal
estar de serem ignoradas pelas meninas mais populares e os garotos mais gatos.
Com Beca não era diferente, mas
em especial, ela sentia falta do amigo, que agora estava saindo mais com outros
garotos da escola.
-E se nenhum garoto quiser me
namorar. – Perguntou Beca, durante uma conversa com sua mãe.
- Impossível isso acontecer,
filha! – Respondeu Vivi, enquanto temperava a salada.
- Isso não é verdade. Os garotos
me olham diferente porque estou numa cadeira de rodas. – Retrucou Beca,
apontando para si própria.
- O garoto ideal nem vai ligar
para essa cadeira, Beca. – Disse Vivi, terminando a fala com um beijo na ponta
do nariz da filha.
- Garotos... – Murmurou Beca.
- Beca...e o Ian, hein? –
Perguntou Vivian, naquele tom de mãe quando quer descobrir algo dos filhos.
- O que tem ele? – Replicou Beca,
enquanto pegava o sal para a mãe.
- Ah, sei lá...eu acho que ele
gosta de você! – Disse Vivian, encolhendo os ombros.
- Ah gosta, ô se gosta! –
Respondeu Beca, nitidamente irritada ao se lembrar do amigo. - Gosta tanto que
faz três dias que nem aparece. Ligou no começo da semana pra cancelar o
trabalho que tínhamos combinado de fazer juntos, só porque ia ao cinema com o
Felipe e o Marcos. – Concluiu, em meio a caretas.
Vivi ria, mas tentava não
demonstrar para a filha.
- Filha, você gosta dele, não
gosta? – Perguntou Vivian, parando de cortar as cenouras e se apoiando na mesa
para olhar Beca.
- Ah mãe, eu não sei. – Respondeu
a filha, dando de ombros.
- Rebeca, você não precisa
esconder seus sentimentos, nem pra mim, muito menos para você mesma. Você é
linda e Ian será um tolo se ficar perdendo tempo.
- Você está dizendo isso só pra
me agradar... – Disse Beca, baixando a cabeça.
- Você já está bem crescida pra
eu tentar fingir algo que não é verdade. – Retrucou a mãe. – Olha pra mim, Beca
– pediu Vivi, se abaixando para olhar a filha nos olhos. – Ian cresceu. Você
cresceu. Não significa que ele deixou de gostar de você.
- Tá bom, mãe... – Disse a
menina, vencida pelas verdades ditas pela mãe.
- Eu te amo filha! – Concluiu Vivi,
dando um beijo na testa de Beca.
Quatro anos mais tarde...
Beca saia algumas poucas vezes
com as amigas da escola e Ian aparecia umas duas vezes na semana e aos fins de
semana, mas no geral, Beca preferia ficar em casa, ajudando a mãe, ou estudando
para o vestibular.
Faltavam duas semanas para o
baile de formatura e Ian nem sinal de que convidaria Beca para ir com ele como
par.
- Beca, Ian está aqui! – Gritou Pedro
da sala.
Beca apareceu alguns minutos
depois, de cabelo meio preso, meio solto, com as ondas douradas escondendo um
pouco dos seus olhos verdes. Ian sempre estalava um pouco os olhos quando
encontrava com a amiga, mas rapidamente desviava o olhar, com medo que alguém percebesse
o que deixava Beca intrigada, parecia que o amigo a ignorava na verdade.
- Quer ir até a sorveteria? –
Perguntou Ian.
Beca olhou para o pai, que
concordou com um aceno de cabeça.
Ian apenas caminhava ao lado da
amiga, agora Beca já tinha domínio sobre a cadeira de rodas e se deslocava
quase que facilmente, se não fosse algumas partes irregulares que lhe
desafiavam, ou a ausência de guias rebaixadas.
Os dois pegaram o sorvete e foram
até uma mesinha desocupada, enquanto conversavam.
- Então... – disse Ian cauteloso –
você já sabe com quem vai para o baile?
Beca congelou, de repente sentiu
algumas milhares de borboletas batendo asas em seu estômago, um calafrio que ia
da cintura até o topo da cabeça, as mãos formigavam, um turbilhão de emoções.
- Eu preciso ir no banheiro! –
Disse Beca se esquivando da pergunta do amigo.
- O que? Ah tá! – Disse Ian,
completamente confuso.
- Não, espera! Qual foi a
pergunta? – Voltou Beca.
- Hahaha, Beca! – Ian soltou uma
larga risada.
- Eu perguntei, se você quer ir
ao baile comigo.
- Não foi isso que você
perguntou? – Disse Beca intrigada.
- Achei que você não tinha ouvido
minha pergunta. – Retrucou Ian.
- Eu adoraria ir ao baile com
você, Ian. – Concluiu Beca, com as bochechas instantaneamente rosadas.
Ian também.
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