sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Sobre Rodas e Smokings - Capítulo 5 - Sentimentos

Quanto mais o tempo passava, mais amigos Ian e Beca se tornavam.

Ian passava todas as manhãs para pegar Beca e irem juntos para a escola.
Ele definitivamente se divertia mais do que a amiga, não que Beca também não adorasse, mas sabe como são os meninos, dê-lhes algo com rodinha e eles se tornarão verdadeiros pilotos de formula 1.
Apesar dos pais de Ian os acompanhar, na maioria das vezes Ian e Beca se perdiam entre uma esquina e outra, acelerando. Ian tirava sorrisos largos de Beca. Ela fechava os olhos e sentia o vento batendo em seu rosto, jogando os cabelos quase albinos para trás, abrindo os braços e curtindo a aventura.
- Mais rápido Ian, mais rápido! – Gritou Beca para o amigo.
Até para o pequeno Ian, a velocidade tinha um limite, apesar da diversão com a amiga, ele não abusava, mas seus efeitos sonoros sempre deixavam a corrida mais emocionante.
- “Vruuum”, estamos chegando no espaço “cereal”, capitã!" – A palavra correta que Ian quis dizer era sideral, mas a confusão de palavras era algo comum e sempre arrancava sorrisos dos adultos.
O espaço "cereal" era a escola em que ficavam a maior parte do dia, onde tudo começou a mudar para Ian e Beca.
Alguns dias após Ian e Beca começarem na escola, a amizade entre o casal foi além dos muros escolares, não demorou muito até que Ian passe horas na casa de Beca e Beca na casa do amigo.
Como os pais de Ian eram novos na cidade e a amizade dos filhos cada dia mais intensa, foi natural que as duas famílias acabassem se aproximando. Natal, ano novo, ação de graças, entre outros fins de semanas normais corriqueiros. Débora e Luiz também aprenderam a cuidar de Beca, quando a garotinha ia dormir na casa do amigo.
- Você sente se eu fizer assim? – Perguntou Ian, cutucando a perna da amiga.
- Não. – Respondeu Beca sorridente.
- E assim? – Perguntou novamente o amigo, dando uma cutucada dupla em sua perna.
- Também não. – Tornou a responder a amiga, Ian gargalhava achando divertido a amiga não sentir nada nas pernas.
Debora sorria da cozinha, enquanto observava o filho descobrindo os efeitos da condição de Beca.
Certa noite, antes de dormir, Ian fez um importante pronunciamento à sua mãe:
- Quando eu crescer, quero “caçar” com a Beca! – Disse o menino, pulando na cama, com seu pijama de homem aranha.
- Você quis dizer, casar com a Beca. –Corrigiu Débora.
- É, isso!
– Mas, vocês ainda são muito novos por enquanto, filho. - Disse Débora, cobrindo o filho.
- Mas eu não disse que era agora, né mãe! – Disse o garoto, gesticulando com os braços. – Agora a gente só brinca.
- A Beca é linda, não é filho?
- Liiiiinda! – Repetiu Ian com um sorrisão.

A fase da adolescência sempre fora a mais trabalhosa para os pais, filhos rebeldes e cheios de espinhas, com a puberdade gritando alto. As meninas descobrindo a TPM, One Direction e o mal estar de serem ignoradas pelas meninas mais populares e os garotos mais gatos.
Com Beca não era diferente, mas em especial, ela sentia falta do amigo, que agora estava saindo mais com outros garotos da escola.
-E se nenhum garoto quiser me namorar. – Perguntou Beca, durante uma conversa com sua mãe.
- Impossível isso acontecer, filha! – Respondeu Vivi, enquanto temperava a salada.
- Isso não é verdade. Os garotos me olham diferente porque estou numa cadeira de rodas. – Retrucou Beca, apontando para si própria.
- O garoto ideal nem vai ligar para essa cadeira, Beca. – Disse Vivi, terminando a fala com um beijo na ponta do nariz da filha.
- Garotos... – Murmurou Beca.
- Beca...e o Ian, hein? – Perguntou Vivian, naquele tom de mãe quando quer descobrir algo dos filhos.
- O que tem ele? – Replicou Beca, enquanto pegava o sal para a mãe.
- Ah, sei lá...eu acho que ele gosta de você! – Disse Vivian, encolhendo os ombros.
- Ah gosta, ô se gosta! – Respondeu Beca, nitidamente irritada ao se lembrar do amigo. - Gosta tanto que faz três dias que nem aparece. Ligou no começo da semana pra cancelar o trabalho que tínhamos combinado de fazer juntos, só porque ia ao cinema com o Felipe e o Marcos. – Concluiu, em meio a caretas.
Vivi ria, mas tentava não demonstrar para a filha.
- Filha, você gosta dele, não gosta? – Perguntou Vivian, parando de cortar as cenouras e se apoiando na mesa para olhar Beca.
- Ah mãe, eu não sei. – Respondeu a filha, dando de ombros.
- Rebeca, você não precisa esconder seus sentimentos, nem pra mim, muito menos para você mesma. Você é linda e Ian será um tolo se ficar perdendo tempo.
- Você está dizendo isso só pra me agradar... – Disse Beca, baixando a cabeça.
- Você já está bem crescida pra eu tentar fingir algo que não é verdade. – Retrucou a mãe. – Olha pra mim, Beca – pediu Vivi, se abaixando para olhar a filha nos olhos. – Ian cresceu. Você cresceu. Não significa que ele deixou de gostar de você.
- Tá bom, mãe... – Disse a menina, vencida pelas verdades ditas pela mãe.
- Eu te amo filha! – Concluiu Vivi, dando um beijo na testa de Beca.
Quatro anos mais tarde...
Beca saia algumas poucas vezes com as amigas da escola e Ian aparecia umas duas vezes na semana e aos fins de semana, mas no geral, Beca preferia ficar em casa, ajudando a mãe, ou estudando para o vestibular.
Faltavam duas semanas para o baile de formatura e Ian nem sinal de que convidaria Beca para ir com ele como par.
- Beca, Ian está aqui! – Gritou Pedro da sala.
Beca apareceu alguns minutos depois, de cabelo meio preso, meio solto, com as ondas douradas escondendo um pouco dos seus olhos verdes. Ian sempre estalava um pouco os olhos quando encontrava com a amiga, mas rapidamente desviava o olhar, com medo que alguém percebesse o que deixava Beca intrigada, parecia que o amigo a ignorava na verdade.
- Quer ir até a sorveteria? – Perguntou Ian.
Beca olhou para o pai, que concordou com um aceno de cabeça.
Ian apenas caminhava ao lado da amiga, agora Beca já tinha domínio sobre a cadeira de rodas e se deslocava quase que facilmente, se não fosse algumas partes irregulares que lhe desafiavam, ou a ausência de guias rebaixadas.
Os dois pegaram o sorvete e foram até uma mesinha desocupada, enquanto conversavam.
- Então... – disse Ian cauteloso – você já sabe com quem vai para o baile?
Beca congelou, de repente sentiu algumas milhares de borboletas batendo asas em seu estômago, um calafrio que ia da cintura até o topo da cabeça, as mãos formigavam, um turbilhão de emoções.
- Eu preciso ir no banheiro! – Disse Beca se esquivando da pergunta do amigo.
- O que? Ah tá! – Disse Ian, completamente confuso.
- Não, espera! Qual foi a pergunta? – Voltou Beca.
- Hahaha, Beca! – Ian soltou uma larga risada.
- Eu perguntei, se você quer ir ao baile comigo.
- Não foi isso que você perguntou? – Disse Beca intrigada.
- Achei que você não tinha ouvido minha pergunta. – Retrucou Ian.
- Eu adoraria ir ao baile com você, Ian. – Concluiu Beca, com as bochechas instantaneamente rosadas.
Ian também.

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