quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Sobre Rodas e Smokings - Capítulo 2 - Mudança de Planos

Foram três meses que Vivian e Pedro praticamente fizeram do hospital seu lar.
Quando Julia segurou Beca, na intenção de socorrê-la, causou uma interrupção lombar na medula espinhal. O Dr.Eugênio explicara na época que mesmo que Julia não tivesse mexido em Beca, a paraplegia era iminente, talvez não irreversível, como acabou sendo sentenciada.
- Bom, Beca está pronta para receber alta. Os próximos oito meses, nos encontraremos quinzenalmente para novas avaliações do seu quadro. - Explicou o Dr. Eugênio. - Com tempo, Beca estará mais adaptada e as visitas serão menos frequentes. É importante que vocês não percam a vitalidade por causa da nova condição da sua filha. Beca é uma garotinha linda e agora mais que especial, ela precisará de todo apoio que puderem dar. - Explicou o médico.
O Dr. Eugênio esteve perto em cada momento da internação de Beca, explicando a necessidade que ela teria de uma cadeira de rodas, assim como seu nível de paraplegia seria irreversível, notícia essa que pegou Vivi e Pedro como um foguete, suas vidas mudaria da água para o vinho e eles teriam que se adaptar a nova condição da filha.
Uma coisa o Dr. Eugênio tinha razão, Beca era uma garotinha linda, cabelos de cachos nas pontas, louros quase brancos e olhos verdes como bolas de gude, heranças da mãe, a pele branquinha e lábios vermelho vibrantes de sorriso largo, era a marca registrada do pai. Beca era o tipo de criança que fazia todos pararem para admirar quando saía para passear.
A hora de dormir era sagrado uma história de princesas e bruxas e claro, dos príncipes para que Beca pegasse no sono e não era tarefa de pai ou mãe, Vivi e Pedro tinham que estar juntos, cada um de um lado da pequena cama e Beca no meio, segurando a mão de cada um, enquanto os pais narravam as aventuras de seus personagens favoritos. Não importava se havia uma história inédita incrível, o ritual precisava ser finalizado com a história da princesa Fiona e Sherek.
Julia permaneceu ajudando Vivi e Pedro, não houve acusações contra a babá, todos sabiam que o acidente poderia ter acontecido com qualquer um deles. No começo, Julia sentia-se muito culpada mas, Vivi principalmente fez questão de que Julia participasse de tudo, para mostrar que não havia rancor.
Com o passar do tempo, Beca e os pais foram se encaixando na nova rotina de vida, agora Beca tinha cinco aninhos, dentro de casa ela já se virava sozinha boa parte do dia, com relação a movimentos, não que houvesse muito em que facilitar na vida dos pais ou no cuidado da babá, mas, a independência era parte do aprendizado para quando Beca crescesse.
- Amor, precisamos voltar a pensar na ideia de colocar Beca numa escolinha, é importante para ela. - Disse Pedro.
- É, eu tenho pensado nisso ultimamente, acho que não dá mais para protelar mesmo. - Concordou Vivi.
A "vida social" de Beca com as demais crianças da sua idade se limitava a contemplá-los correndo de um lado para o outro durante as tardes de passeio no parque com Julia. Os olhinhos verdes brilhavam vendo as crianças se lambuzarem no tanque de areia, escalar o emaranhado de ferro em suas mais diversas formas e cores, ou simplesmente correrem um atrás do outro, explorando a praça de uma extremidade à outra. Normalmente Julia forrava o chão com uma toalha e espalhava alguns brinquedos que Beca escolhia para levar para o parque, mas, normalmente Beca ficava imóvel com um brinquedo em mãos, mas apenas admirando as aventuras das outras crianças.
- Você viu como o cabelo daquela menina voa enquanto ela corre, "Xulia"? - A pronuncia de Beca ainda a enganava, algumas palavras com "r" no meio também eram substituídas por uma tentativa com "l", como "bilinquedo" que signifcaria "brinquedo". O fato é que Beca amava o movimento que o vento fazia no cabelo das crianças, enquanto essas corriam de um lado para o outro e isso deixava Julia com um pouco de remorso.
- Eu vi Bequinha. - Respondeu Julia, tentando disfarçar o nó na garganta.
Julia parou por um instante, olhando a sua volta, parecendo ter tido uma ideia.
- Hei Bequinha, quer sentir seus cabelos voarem também? - Perguntou Julia toda animada.
- Siiiiim! - Exclamou Beca radiante.
- Mas, atenção, você precisará segurar firme, nós vamos decolar! - Alertou Julia, em tom de brincalhona.
Julia encaixou Beca em sua cadeira de rodas, apertou algumas fivelas e começou a acelerar os passos, desenhando curvas por entre a praça, enquanto Beca gargalhava de alegria.
- Isso é muito divertido, Xu! - Disse Beca, segurando com as mãos no cinto de segurança da cadeira e com um largo sorriso no rosto de aventura.
Naquela tarde, quando voltavam para a casa, ainda recuperando o fôlego da nova aventura, perceberam uma movimentação na casa do fim da rua, eram novos moradores chegando na vizinhança. O caminhão de mudança não parava de descarregar caixas e mais caixas para dentro da casa, enquanto um pequeno garotinho, de cabelos cacheadinhos castanhos, brincava com seu aviãozinho no gramado, achando tudo aquilo demasiado divertido.
- Ian, nada de atravessar a rua! - Alertou o que devia ser o pai do garoto, pegando mais uma caixa.

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