quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Sobre Rodas e Smokings - Capítulo 3 - Super Herói

Beca ficara apenas observando o garoto no gramado da casa no fim da rua, enquanto Julia a conduzia para dentro de casa.
...
Ian era o filho único de Débora e Luiz, não tinha nada que chamasse a atenção em sua aparência, era ajeitadinho, de cabelos cacheados e olhos castanhos. O que Ian tinha realmente de diferente da maioria das crianças era a sua bondade.
Ian sempre teve uma imaginação fértil e um vigor natural que qualquer garoto de cinco anos tem. Quando chegava da escola, costumava fazer entradas triunfais, se imaginando como um super herói, jogava a mochila ao entrar e saia gritando e pulando, enquanto Débora vinha atrás, recolhendo os acessórios escolares deixados pelo caminho.
- Você não me escapa, Duende Verde! - Disse Ian, incorporando um homem aranha, escalando sofás, poltronas e qualquer outro móvel que estivesse em seu caminho. - Vou prender você na minha "telha" "pish!"Ian tinha uma certa dificuldade em falar a palavra correta, mas isso era algo que só os adultos percebiam.
Mas, uma tarde em especial, Ian voltara para casa mirrado, guardou sua mochila de super herói no lugar correto, sentou em frente a televisão e ficou mudando de canal, até parar em algum desenho, mas sem muito interesse. Débora percebeu que tinha algo errado com o filho e optou por deixar a preparação do jantar para depois e ir conversar com o filho.
- O que está acontecendo com meu herói favorito, hein? - Perguntou Débora, envolvendo o filho naquele abraço bom de mãe.
- Eu não entendo, mamãe! Não entendo mesmo! - Disse Ian, com ar de confuso.
- O que você não entende, Ian? - Perguntou Débora, olhando atentamente para o claro conflito do filho.
- Por que o Vitor e os outros amigos dele ficam fazendo o Julinho chorar? Eles ficam rindo, mamãe, enquanto o Julinho fica chorando. Eles falam coisas que não são verdades pra ele! - Ian gesticulava com as mãos, tentando entender a atitude dos coleguinhas de sala.
Vitor e sua turma, era o grupinho que mais dava trabalho para a diretora, todos os dias eles selecionavam algum colega para irritar e fazer a criança chorar, esse era o objetivo final dos garotos. Mas em especial, Julio, nunca escapava das atrocidades de Vitor e sua trupe. A escola de Ian era de alto padrão, o uniforme das crianças era caracterizado de forma extremamente social, meninos de ternos e gravatas e meninas de saias com pregas e camisas com lacinhos. Julio era um dos poucos garotos negros da escola, filho de pais advogados e muito bem sucedidos e por isso era constantemente alvo de chacotas e comparações injustas. Débora não precisou pedir mais explicações ao filho para entender do que se tratava, todos os dias Ian contava mais uma das maldades que os meninos aprontavam. Vez em outra Ian também era alvo, mas tinha adotado a tática proposta pela mãe de não ligar para eles e assim, logo os garotos desanimavam de pegar no pé do filho. Sempre dava certo.
- Esses garotos precisam de umas boas palmadas no bumbum! - Disse Débora, tentando quebrar o gelo com o filho. - Filho, você não pode esperar que todas as crianças sejam boas como você é, o que você pode fazer é estar sempre ao lado de quem te faz feliz e ignorar esses garotos bobos.
- Eu sei mamãe, mas eu fico triste pelo Julinho também. - Explicou Ian ressentido pelo amiguinho.
- Eu sei filho, isso é coisa de super herói, você tem que se acostumar. Que tal se você contar o seu segredo de como enfrentar esses garotos para o Julinho? - Débora se referia a atitude de ignorar Vitor e sua turma, como Ian vinha fazendo.
- Ser herói não é fácil, mamãe! - Concluiu o filho.

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