terça-feira, 27 de outubro de 2015

Capítulo 14 - Vogue

"Good luck" disse o sarcástico taxista depois de deixar Ian no endereço que Beca lhe informara.
...
- É, acho que precisarei de muita sorte mesmo! - Respondeu Ian consigo mesmo, já que o motorista já havia sumido de vista.
Aos poucos o rapaz foi recuperando a sanidade, o que nessa circunstância não era lá grande coisa, já que seu cérebro voltara a funcionar e processar a situação complicada em que havia se metido: passarei o natal num país estranho, de língua desconhecida e o pior de tudo, bem longe da Beca.
...
Beca ainda não havia parado de rir, se quer conseguia disfarçar o descontrole emocional, fazendo com que as pessoas a sua volta lhe dessem uma olhada de estranheza. Ela estava com a mala no colo e conduzindo sua cadeira de rodas motorizada para a parte de fora do aeroporto, em direção à um táxi, mas fez uma pausa para discar a última chamada e retomar a ligação de Ian.
- Hey! Está melhor? - Perguntou Beca, ao ouvir o "alô" do rapaz.
- Eu estou ferrado, Beca, estou muito ferrado mesmo! - Respondeu Ian com cara de apavorado.
Foi impossível Beca tentar controlar o ataque de risos novamente, deixando Ian boquiaberto com a falta de compaixão da garota.
- Você está rindo? Sério, Beca? - Continuou Ian inconformado.
Beca continuava descontrolada com seu acesso de risos e acabou não demorando muito até que Ian cedesse ao fato no mínimo cômico em que se encontravam.
- Eu não acredito na proeza que conseguimos. - Disse Beca, ainda tentando se recompor.
- Beca, eu não sei se quer pedir água em inglês. Eu tô ferrado! - Retrucou Ian, dando ênfase na última afirmação.
- Relaxa, tenho um amigo brasileiro aí, ele vai te socorrer. - Respondeu Beca.
- Amigo? - Perguntou Ian sismado. - Você nunca me falou que tinha um amigo brasileiro aqui.
- Eram muitas novidades, não dava pra falar tudo de uma vez. - Explicou Beca.
- Hum, tá. - Respondeu Ian, pouco satisfeito com a explicação da garota. - Qual o nome dele, como ele é?
- Fábio e é bem bonitão para ser honesta. - Respondeu Beca, nitidamente satisfeita em perceber o tom ciumento de Ian.
- Você sempre brincando  comigo, Maria Rebeca. - Respondeu Ian, tentando descontrair, mas ainda incomodado por haver outro cara na vida de Beca.
Ian nunca fora o tipo de namorado ciumento ou grudento, mas, como desde pequeno esperava o melhor das pessoas, assim como ele as via, temia que esse tal de Fábio poderia ser quem sabe outro cara legal e facilmente se apaixonaria por Beca e por que não, Beca por ele? Beca já era mais desapegada e demorava a perceber alguma coisa que os outros percebiam antes, mas Ian era para ela um livro aberto, Beca reconhecia o humor do rapaz apenas num olhar, ou numa ligação a distância, mas com Fábio, Beca nunca havia reparado se havia algo mais e também não estava preocupada em encontrar outro amor. Ian era suficiente, sempre seria.
- Deixa de besteira, Ian, Fábio é apenas um amigo e é bom você se acostumar, você precisará e muito da ajuda dele. - Respondeu Beca, tentando tranquilizar o rapaz.
- Quando você volta? - Perguntou Ian, ignorando o conselho de Beca.
- Dia 2 de Janeiro. - O Projeto que estou participando já terá retomado as pesquisas, o pessoal não quer perder tempo. - Explicou Beca. - E você?
- Dia 1. - Respondeu Ian, num tom de desapontado.
- Olha aí, teremos pelo menos algumas horinhas juntos! - Celebrou Beca.
- Não será o suficiente. - Retrucou Ian.
- Nunca será suficiente, por isso é amor! O amor sempre pede mais, Ian! - Justificou Beca.
Não há algo mais contraditório do que o amor, quanto mais o temos, mais queremos ter, mais queremos ser saciados e também compartilhar. Sempre queremos demonstrar para a outra pessoa o quanto ela é especial e ainda assim ele consegue ser suficiente para completar sorrisos e trazer paz.
- Eu também te amo! - Respondeu Ian. - Mas agora eu preciso desligar, essa ligação vai lhe custar muito. - Lembrou o rapaz.
- Tudo bem. Se o telefone fixo tocar, atenda! - Recomendou Beca. - E Ian, tenta curtir as férias. - Completou Beca.
- Onde você ficará? - Perguntou Ian, lembrando que Beca estava sozinha em solo carioca.
- Num hotel perto do Leblon. Te amo. - Respondeu Beca, se despedindo.
Que a família de Beca era rica, Ian já sabia, sua vida universitária e econômica que o fez se esquecer o quanto.
Ian explorou a casa de Beca, fazendo um reconhecimento de território. Beca dividia a casa com mais uma colega francesa, que também estava viajando, o que significava que a casa era toda do rapaz. A casa era térrea, para facilitar a locomoção de Beca, toda de carpete, com dois quartos, um de frente ao corredor que ligava com a sala e outro na lateral, esse era o de Beca. A cozinha não tinha diferença da arquitetura americana, um balcão dividindo os ambientes, mas com armários todos baixos, também adaptados para ajudar Beca na hora de fazer as refeições.
Ian levou a mochila até o quarto de Beca, a cama minunciosamente arrumada, nada havia fora do lugar, sequer um chinelo, Beca podia ter uma personalidade descontraída, mas era extremamente perfeccionista e gostava de tudo milimetricamente organizado; "eu tô ferrado" pensou Ian, ao analisar o ambiente, o rapaz desde sempre, fora um furacão, por onde passava, deixava seu rastro de destruição, roupas, meias e cuecas, todas jogadas pelos cantos.
Depois de algumas horas, a campainha tocou, Ian estava sentado no sofá da sala, tentando achar algum programa de tv com legenda, ou ao menos uma novela global, que lhe suprisse a abstinência pelo velho idioma. O rapaz parado na porta, era mais alto que Ian, cabelo liso castanho, corpo atlético, parecia modelo capa de revista para a Vogue. 
- Pois não? - Disse Ian, ao ver o rapaz.
- Ian? - Perguntou o rapaz.
- Sim. Você é o Fábio? - Perguntou Ian, incrédulo. Beca não mentira quando afirmou sobre a beleza do rapaz.
- Beca me disse que você estava precisando de um socorro. - Sorriu o rapaz com simpatia.
- Ela é uma exagerada. - Disfarçou Ian. - Entre.

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