sábado, 10 de outubro de 2015

Sobre Rodas e Smokings - Capítulo 6


Rodas e Smokings

Ian está em sua cama desperto, olhando para o teto e refletindo ou repassando algum plano importante.
Beca, está com a mãe, experimentando vestidos.
...
Já passa das dez horas da matina e Beca acordara cedo, a ansiedade parece tê-la tirado da cama mais cedo. Vivi prometeu levar a filha para comprar o vestido de formatura e Beca havia passado os últimos dias tentando achar o modelo ideal, apesar de ter ficado um pouco bolada de que pessoas cadeirantes não poderiam se dar ao luxo de se vestirem para bailes e ter uma vida normal que as outras pessoas tinham. 
- O que eu vou fazer lá mãe? - Questionou Beca um pouco chorosa.
- Você vai se divertir, como qualquer outra garota. - Afirmou a mãe.
- Ian deve estar arrependido de ter que ir à um baile com uma garota sobre rodas.
...
Algumas casas para baixo, Ian finalmente saiu da cama num salto, vestiu a primeira roupa que estava jogada sobre a cadeira e saiu em disparado para fora. Havia alguma coisa em sua atitude que denunciava algo contagiante, o sorriso do bom humor, a disposição do amor. Ian estava apaixonado, mas só viria a descobrir isso mais tarde. Entretanto, seus passos animados rumo ao seu destino, enquanto cantarolava "eu gosto de você e gosto de ficar com você" dos Tribalistas, indicava que o garoto havia reacendido um sentimento da sua velha infância, ainda que inconsciente.
Ian parou em frente a floricultura e pediu uma única flor:
- Olá! Eu preciso de uma rosa, a mais amarela que você tiver! - Disse Ian, com bastante precisão em seu pedido.
...
Vivi quando viu a filha com o vestido em potencial, saindo do provador, não pôde evitar que os olhos se enchessem.
- Está linda, filha! - Disse Vivi, secando as lágrimas.
Beca sorriu.
...
Luiz estava ajudando o filho com a gravata borboleta, era o primeiro smoking que Ian usaria, o garoto estava ficando adorável.
Gel no cabelo para tentar comportar os cachos, sapatos novos e brilhantes e o smoking caindo como luva sobre os ombros do rapaz, Débora não se conteve em ver o filho crescido, o momento obviamente fora registrado por fotos e mais fotos.
- Chega mãe, vamos nos atrasar. - Disse Ian.
- Tá bom, tá bom! A última! "clic"
Luiz tocou no ombro do filho com um olhar de pai orgulhoso e abraçou Ian. Papo de pai e filho é engraçado, por vezes dispensa palavras.
Quando o carro parou em frente a casa da amiga, Ian pareceu ser dominado por uma onda de emoções, sentiu-se um pouco nauseado, mãos frias e até um pouco de dor de barriga. O garoto estava impecável em seu smoking feito sob medida, perfeitamente alinhado em seu corpo agora de rapaz jovem, foi preciso respirar fundo em um ou dois momentos para retomar o controle. Ian segurava a única rosa amarela que comprara na floricultura, um pouco inquieto, enquanto esperava pela amiga. Ele parecia não querer olhar para porta quando percebeu a aproximação de Beca, mas era definitivamente impossível evitar de encará-la, "mas afinal de contas, que raios está acontecendo comigo?" Perguntou-se Ian ao ver Beca.
- Uau, como ela está linda!
Dessa vez ele não segurou o pensamento e os pais de Beca sorriram com o sussurro do amigo.
Vestido tule champagne, com rendas na alça caída sobre os ombros, cabelos agora compridos e dourados, vibrantes como a rosa que o amigo segurava, cheio de cachos perfeitos e uma maquiagem que deixara seus olhos num verde vivo. Beca estava adoravelmente perfeita.
Após uma hesitada e meio sem jeito, Ian se aproximou da amiga, se inclinando e lhe dando um beijo na testa e em seguida lhe entregando a rosa amarela, o que causou em Beca a certeza que ela nunca se permitiu admitir; o quanto gostava do amigo.
Ian assumiu a condução da cadeira de Beca e a levou até a outra calçada, onde seus pais os esperavam.
- Posso? - Perguntou Ian, estendendo as mãos para pegar a amiga e carregá-la para dentro do carro. Beca apenas sorria de forma graciosa, percebendo a momentânea timidez do amigo.
Claro! - Respondeu Beca, abrindo os braços para Ian. - Você parece um pouco pálido, Ian, está tudo bem? - Perguntou Beca, enquanto Ian a segurava.
Ian parou para encará-la e finalmente percebeu um olhar diferente de Beca para ele, um misto de contentamento e permissividade, ele retribuiu o olhar antes de responder: "está tudo perfeito, Beca!" 
A momentânea onda de segurança de Beca enquanto via a reação do amigo havia acabado, de repente não fazia mais sentido estar ali. Ver todas aquelas garotas chegando em vestidos exuberantes, os garotos com jeito de orgulhosos em seus smokings e suas parceiras sem uma cadeira de roda, a fizeram desejar nunca ter aceitado o convite do amigo.
- Ian! - Chamou Beca.
Ian estava distraído vendo toda a movimentação na entrada do baile.
- Ian!! - Chamou novamente Beca, dando-lje um beliscão.
- Ai  Beca! - Resmungou o amigo.
- Acho que eu não estou passando bem. Você pode me levar embora?
- O que foi Beca? - Agachou Ian, para ver o que a amiga tinha.
- Não estou me sentindo muito bem. - Replicou Beca.
Ian entendeu o que causava o mal estar na amiga e deu um sorriso antes de prosseguir.
- Beca, você vai ficar, porque eu quero dançar com você essa noite. - Disse Ian, pegando a mão da amiga e beijando como um perfeito cavalheiro.
E naquele momento, Beca e Ian entenderam o que era o amor.
Quando finalmente entraram no salão, foram contagiados por uma atmosfera de liberdade e conquista, afinal de contas, todos ali haviam cumprido seus estudos e estavam prontos para o próximo passo na vida, assumir novas responsabilidades e ganhar o mundo. Excepcionalmente naquela noite, tudo era possível!
Havia uma pista de dança com uma banda ao vivo tocando os mais diversos estilos musicais e tinha uma boa parte curtindo o som e outros muitos jantando antes de também caírem na dança.
- Vou pegar alguma coisa para bebermos. - Disse Ian no ouvido da amiga, já que a música estava muito alta.
- Quero água, por favor! - Pediu Beca.
Ian e Beca estavam rindo do que falavam e tirando fotos e mais fotos com os amigos. Ian parecia meio inquieto, olhava para a pista de dança e então para a amiga, mas desviava o olhar quando ela o olhava, aos poucos, o assunto entre eles foi cessando e Beca percebeu a inquietude do amigo.
- O que você tem, Ian?
- Oi? - Perguntou Ian, desviando o olhar da pista de dança para responder a amiga.
- Você tá tão sério. - Disse Beca.
Dessa vez o amigo não respondeu, apenas deu um sorriso ao encarar Beca, se levantou e se afastou de Beca em direção ao palco. Sussurrou alguma coisa para o vocalista e voltou para buscar a amiga.
- Vamos! - Foi tudo que Ian disse, levando Beca até o centro da pista.
Como cena de filme, as pessoas foram abrindo espaço, formando uma grande roda, todos os olhos voltados para Ian e Beca.
- Ian! Ian! O que você está fazendo? - Perguntou Beca entre os dentes. - Ian, pára, eu não consigo!
- Mas eu consigo. - Respondeu o amigo. - Me abraça forte, Beca. - Pediu Ian.
A música que Ian cantara mais cedo começou a ganhar força na voz do vocalista, enquanto Ian olhava Beca bem nos olhos e a erguia para sustentá-la em seus pés.
"Você é assim, um sonho pra mim e quando eu não te vejo, eu penso em você, desde o amanhecer, até quando eu me deito..."
- Acho que essa pode ser a nossa música, não acha? - Perguntou Ian no ouvido de Beca.
Beca não respondeu em palavras, apenas descansou a cabeça no ombro de Ian e deixou rolar uma lágrima enquanto sorria.

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