sexta-feira, 16 de outubro de 2015

Capítulo 9 - Perdas e Ganhos

Ian continuava sem reação, parado à porta, processando as felicitações de Beca.
...
Era natural Ian sentir-se um pouco desnorteado, ele não havia se preparado para receber a notícia de que fora aprovado no vestibular daquela maneira, muito menos com tamanho entusiasmo de Beca.
- Oi! Ah, obrigado! - Reagiu Ian, abraçando a namorada.
- O que foi Ian? Não parece feliz para um futuro juíz! - Brincou Beca.
- Não...sim, quer dizer, acho que eu só não esperava tanto entusiasmo da sua parte. - Respondeu Ian, indicando o interior da casa para Beca.
O mundo em que Beca e Ian viviam era um pouco diferente, se tratando da forma em lidar com perdas e ganhos. Para Beca, o estado de paraplegia era algo que ela conhecia desde sempre e tirando algumas poucas perguntas que mais pareciam curiosidades que Beca fazia aos pais quando mais nova, não havia muito conflito em viver daquela maneira. Os anos ensinaram Beca a dar valor as coisas que tinha pelo tempo que lhe fosse permitido e quando chegasse a hora, ela poderia desapegar sem crise, ou sentimentos de perda.
Apesar de Ian ter se mudado de estado e deixado para trás os coleguinhas de escola e alguns parentes distantes, ele ainda era uma criança na época e tudo era uma aventura, lidar com perdas nunca foi algo que fizesse parte da sua realidade. Ian sempre foi um tipo de garoto que gostava das coisas bem esclarecidas e seus pais, Débora e Luiz sabiam disso muito bem. Quando pequeno, Ian explorou todos os "por quês" que um garoto de cinco anos poderia questionar com os pais. Quanto mais as coisas fossem esclarecidas, mais caía o ritmo das perguntas e assim ele ia compreendendo o sentido da vida. Entender que Beca não podia andar, fora algo que os pais levaram algumas boas semanas para trazer a compreensão do filho. Não fazia sentido no mundinho de ingenuidade de Ian, que sua amiga tivesse pernas e não pudesse movimentá-las.
- Que tal darmos uma volta? - Propôs Beca, apontando para fora.
Ian apenas consentiu com a cabeça.
Os dois pararam na pracinha onde Beca brincava com Julia quando criança. Havia um jovem, tocando violão com seu case aberto, esperando alguma gorjeta em troca do cover que cantarolava para quem interessasse ouvir. Ian e Beca por diversas vezes ficavam namorando ao som das músicas do artista de rua, mas ainda estava muito cedo para alguém gratificar o cantor. Os dois sentaram-se no banquinho em frente ao coreto e por alguns segundos, apenas contemplavam a paisagem matutina, enquanto Ian na verdade, admirava Beca, ele era fã daquele sorriso.
- Para de ficar me olhando, Ian! Eu fico sem graça. - Advertiu Beca.
- Eu passei tanto tempo disfarçando o quanto eu te acho linda, que agora eu quero mais é aproveitar. - Defendeu-se Ian. - Ainda mais porque, ficaremos distantes um bom tempo, não que isso esteja parecendo um problema para você. - Disse Ian.
- Ah, me desculpa se eu não apareci na porta da sua casa ao som de um cortejo fúnebre. Qual é Ian, olha só o que você conseguiu! É lógico que eu estou muito feliz por você! - Disse Beca, encarando o namorado.
- Como você é exagerada, Beca! Eu só me surpreendi por você ter ficado tão feliz. 
- Talvez minha alegria esteja vinculada a mais alguma coisa também. - Confessou Beca, parecendo escolher cada palavra que pronunciava.
- Como assim? - Perguntou Ian intrigado.
- Talvez e só talvez - enfatizou Beca - haja uma chance de eu ganhar uma bolsa para cursar medicina em Harvard. - Concluiu Beca, em meio a caretas de medo pela reação do namorado.
- Harvard? Harvard, Beca? - Exclamou Ian, totalmente perplexo.

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